quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Pesadelo Infernal


      Abril de 2003,Belo Horizonte-MG, Brasil. Lembro como se fosse ontem. Eu, uma criança de 9 anos, mais uma tarde normal de aula na escola Desembargador Rodrigues Campos.
      O sinal toca e os alunos entram para iniciar mais um dia letivo, eu estava no pátio conversando com meu amigo Jorge, esperando os professores entrarem para a sala. Os professores entram e nós entramos logo após, sentamos e aguardamos pela chamada. Uma aula tranquila e entediante;Aulas de historia são sempre entediantes.
      - Ei Jorge... Psiuu.
      - Oi Neto! Fala logo antes que o professor acabe de escrever.
      - Você já reparou esse prédio estranho ao lado da escola ?
      - Sim, ele muito esquisito mesmo, e já reparei também que todas as pessoas lá, vestem apenas roupas brancas  e algumas ficam olhando pra nós, pela janela, quando estamos no intervalo.
      - É assustador não é ?
      - É muito assustador.
      - SILENCIO POR FAVOR! - diz o professor.
      A aula prossegue normalmente, e passamos o intervalo olhando o prédio estranho ao lado da escola, e reparamos que estava calmo demais nesse dia. Voltamos para sala após o intervalo e assistimos pensativos os últimos horários.
      A aula termina e meu primo Beto vem ao meu encontro para me levar para casa como de costume. No caminho paramos em uma sorveteria, eu pedi meu sorvete de flocos e milho verde como sempre e ele o de chocolate e morango.
      No caminho para casa, uma caminhada de cerca de 30 minutos, conversamos sobre jogos,desenhos animados e meus estudos.
      - Você viu o novo Resident Evil ? - diz Neto
      - Vi não. Ele é bom ?
      - Ele é legal pelo que vi no shopping esses dias.
      - Você vai pedir pro seu pai comprar ?
      - Não, ele esta sem dinheiro esses dias.
      - Entendi , então vamos fazer o seguinte: se você for bem esse trimestre eu lhe dou o jogo.
      - Serio ?! Vou ser o melhor da turma, pode escrever.
      Papo vai, papo vem e chegamos em casa. Abri a porta e perguntei a ele o por quê não ia entrar, e ele disse que tinha coisas a fazer. Eu achei aquilo muito estranho, porém não questionei,dei um abraço nele e fechei a porta, então corri até a cozinha onde minha mãe estava fazendo um daqueles fantásticos pratos saborosos que só mãe sabe fazer.
      Jantamos , eu subi para o meu quarto e fui fazer meu dever de casa. Terminando, resolvi dormi mais cedo para acordar mais disposto para ir para a natação. Ao acordar corri peguei meus itens necessários para a pratica da aula.Fui para a natação , aprendi técnicas para não se afogar, a aula terminou e eu fui para a casa para almoçar e ir para escola.
      Quando cheguei na escola, não podia deixar de olhar para o prédio que sempre me intrigava e roubava minha atenção. Eu pude ver que esta bem agitado naquele dia, mais que o comum e que estava dando para ouvir uns gritos, porém não conseguia identificar o que estavam falando.
      O sinal toca e os alunos entram, Eu estava no pátio conversando com o Jorge e falei que iria ganhar o novo Resident Evil se eu tirasse uma nota boa neste trimestre, e que iria convida-lo para jogar comigo assim que eu ganhasse o game.


      Os horários ocorreram normalmente, a aula termina e eu saio ansioso para encontrar meu primo Beto, mas não o vi na porta da escola. Ao invés do Beto estava o meu pai, no seu Fiat 147c verde que eu adorava o cheiro.
      Eu perguntei meu pai o que tinha acontecido,por que ele saiu mais cedo do trabalho e o que tinha acontecido com o Beto que ele não foi me buscar, e meu pai disse que ele não iria me buscar mais e que ele estava fazendo umas coisas da qual ele achou melhor afastar ele de mim.
      No colégio, eu já não era mais o mesmo, estava triste e pensativo. Meu primo que eu gostava tanto tinha sumido e ninguém queria me contar o porque, e sempre que eu perguntava era a mesma resposta - você é muito novo para entender certas coisas.
      No outro canto da cidade, Beto já rejeitado pela família começa a usar drogas, e vicia em crack. Não demorou muito ele já estava dependente daquela substância desgraçada,capaz de destruir lares com pouco dias.
      Vasculhava lixos, e restos de construções atrás de qualquer coisas que tenha o mínimo valor que seja para trocar pela droga. Nesta Ultima semana ele conseguiu perder cinco quilos e já tinha seis dias que ele não dormi. Parecia um Rato desesperado, vasculhando os lixos da cidade e com seu cachimbo feito de antena de televisão, aquelas antenas que parece um esqueleto de peixe.
      No cachimbo ele derretia a pedra e a cada tragada ele se transformava, as vezes em um cara de alto escalão do exercito, as vezes eu um procurado perigoso pela policia americana, mas nada passava de uma ilusão causada pelo efeito da droga.
      Os familiares já não sabia o que fazer para poder ajudar o Beto, ele não aceitava ajuda e não queria mais voltar para casa, a solução foi contratar um pessoal que cuida destas pessoas alucinadas e os transferiram para um manicômio onde passou a ter cuidados especiais e tratamento com psicanalistas e psiquiatras.
      Já na segunda-feira na escola vejo Thalita, uma menina Ruiva ,branca e de traços meigos. No sorriso um brilho inocente. Me disse o que tinha visto no ultimo sábado,que a deixou assustada. Ela me contou que passou perto da escola e que tinha visto três homens de branco amarrando um mendigo e jogando ele na traseira do que parecia ser uma ambulância e ele gritava, e que tinha um outro homem morto sangrando muito ao lado da ambulância.
      - Hoje, quando eu cheguei na escola fui ao banheiro e vi aquele homem morto me olhando no espelho. - diz Thalita.
      - Como assim ? Você esta dizendo que tem um espirito aqui na escola ?
      - É quase isto, acho que ele esta me perseguindo, por ter visto ele morrendo e não fiz nada.
      - Mas não foi sua culpa.
      - Acho que ele não pensa assim. Estou com medo!
      - Não fique com medo, sou pequeno mas posso te proteger.
      Naquele instante sai uma menina correndo de dentro do banheiro e começa a gritar desesperada pelo corredor, e chorava ao mesmo tempo. Os professores saíram para ver o que tinha acontecido, e ela  aos soluços disse que tinha uma menina sangrando dentro do banheiro.
      Quando os professores chegaram no banheiro viram uma menina enforcada por uma corda que estava presa no chuveiro. Correram para ligar para a ambulância mas os telefones não tinham sinal. De repente as luzes começaram a piscar e o colégio ficou sem energia.
      A diretora saiu de sala em sala pedindo os alunos para não entrarem no banheiro feminino, pois havia um problema no banheiro e estava interditado.
     
      Eu e a Thalita perdemos até o ar quando vimos a cena, e começamos a escutar um monte de gritos vindo do prédio ao lado da escola. Do prédio ouvia-se barulho de vidros quebrando e coisas sendo lançadas contra a parede.
      Ficamos apavorados, de repente uma das salas abre a porta e os alunos saem correndo e gritando, que tinha o fantasma de uma menina com uma corda no pescoço tentando enforcar eles.
      Neste instante começa uma espécie de rebelião no prédio ao lado da escola e os alunos ao ouvirem aquilo começam a sair da sala correndo, no instante em que os alunos saiam da sala; todos ouviram um barulho alto, de alguma coisa chocando contra o chão. Era um barulho alto e meio que oco, seguido de muitos gritos. Eu e a Thalita corremos para ver o que era.
      Era um corpo, estourado no chão com um colete branco manchando de muito sangue. Ficamos apavorados; o espírito da pessoa que acabava de cair apareceu instantaneamente na nossa frente e começou a perseguir a gente. No que a gente corria mais corpos caindo do prédio ao lado, e assim como nós as outras crianças corriam desesperadamente.
      Crianças morrendo e aparecendo em espíritos vingativos. Eu tentando fugir e salvar minha amiga corria feito um animal para todos os lados a procura de um refugio para que a gente ficasse em segurança. Quando olhei para o lado , havia um espírito antes que eu pudesse avisa-la para correr o espírito a matou e o respingos do seu sangue atingiram meu rosto.
      Eu desesperado ao extremo sai correndo em direção ao portão de saida. Quando estava no meio do pátio cai um corpo na minha frente e estoura todo deixando o cabeça bem visível; quando eu olhei para o rosto eu meu primo Beto. Fiquei transtornado e tentei fugir dali o mais rápido possível.
      Já estava perto do portão de saída quando avistei Jorge me chamando e falando para correr que do outro lado da rua era seguro. Eu como um leopardo desenfreado atravessei a rua sem olhar para os lados e de repente só vi uma luz branca.
      No dia seguinte o noticiário relatava a tragédia daquele dia que entrou para a historia da cidade. O noticiário trazia a seguinte manchete: “Na tarde de ontem, cerca de 53 criança e 20 adultos morreram misteriosamente. Entre os mortos havia uma criança que tentava escavar do inferno daquela tarde e ao atravessar a rua correndo sem olhar foi morta por um caminhão que passava na avenida naquele instante...”
      Vivencio a 10 anos, todo os dia,o dia da minha morte; como um loop do tempo. Desde de a conversa com Jorge até o momento que tentei alcança-lo do outro lado da rua.

Adjair Queiroz Neto
24-03-1994/20-05-2003

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